sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Quando eu nasci

Quando eu nasci nunca tinha visto nada.
Só um escuro, muito escuro na barriga da minha mãe.

Quando eu nasci nunca tinha visto
O sol, nem uma flor, nem uma cara.
Eu não conhecia ninguém,
nem ninguém me conhecia a mim.
Quando eu nasci não sabia o que era o mar,
nem que existiam florestas ,
nem que havia um mundo com montanhas e praias.
Quando eu nasci nunca tinha visto um passarinho,
Nem sabia que havia animais com penas,
outros com escamas,
e outro com pêlo, como meu cão.

Quando eu nasci
nunca tinha brincado com pedras
nunca tinha mexido na terra
nem feito túneis na areia.
As minhas mãos nunca tinham tocado em nada,
só uma na outra.

Quando eu nasci nem sonhava que havia céu
e que o céu mudava de cor e que as nuvens eram tão bonitas
Quando eu nasci era tudo novo. Tudo por estrear.

Os meus olhos ficaram espantados
quando descobriram que todas as coisas
eram feitas de uma cor.
A cor encarnada das cerejas.
A cor verde dos jardins.
A cor azul que pinta o fundo do mar.
A cor amarela do meu chapéu.
A cor castanha de alguns passarinhos.
A cor branca das nuvens.
A cor preta quando se apaga a luz.

A minha boca ficou espantada
quando descobriu do que era capaz:
De chorar muito alto.
De rir com vontade.
De chamar as coisas pelo seu nome.
De dizer palavras feias e bonitas.
De dar beijinhos
e deitar a língua de fora.
De provar leite, sopa,
iogurtes e frutas.
De saborear todos os sabores.

O meu nariz também
ficou surpreendido…
Logo no dia em que eu nasci,
espantou-se com a força com que puxava o ar para dentro
do meu corpo. A partir de então, nunca mais parou.

A toda a hora, a toda o segundo,
traz-me ar fresquinho e cheiros novos.
Há uns de que eu gosto muito:
O cheiro do colo da minha avó.
O cheiro da papas de manhã.
O cheiro das tintas da minha escola.
O cheiro do meu champô.
O cheiro das férias, quando chega o Verão.

Lá dentro, na barriga da minha mãe,
tinham-me já chegado algumas vozes,
o som de alguns instrumentos...
Mas eu podia lá imaginar...
Que as ondas falam para cá e para lá.
Que as árvores quando
o vento canta, cantam também.
Que é tão bom quando alguém
nos fala baixinho ao ouvido.
Que uma coisa quando cai
ao chão faz um estrondo.
E que uma folha
quando pousa faz só: plic

Quando eu nasci as minhas mãos
começaram logo a perguntar:
O que é isto? Quem és tu?
E desde estão nunca mais pararam,
a abrir e a fechar portas.
Com elas já aprendi
que há coisas macias
e outras que picam.
Que há coisas quentes
e outras frias.
Que há coisas
Que se podem desmanchar
E que têm lá dentro outras coisas.
E que essas coisas, por sua vez,
Podem continuar a desmanchar-se,
Vezes e vezes sem fim…

Com as minhas mãos chego
a todos os lugares
e quando não consigo lá chegar,
ponho-me em biquinhos dos pés.
Porque os meus pés quando
eu nasci, ainda não sabia como andar.
Mas aprenderam depressa
e desde então levam-me a toda a parte,
fazem-me correr e dançar e dar saltos no colchão.

Quando eu nasci
não sabia quase nada.
Agora, pelo menos,
uma coisa aprendi:
Ainda há um mundo inteiro
Por conhecer,
Milhões e milhões de coisas e lugares
onde as minhas mãos nunca chegaram.
Milhões e milhões de respostas
escondidas
milhões e milhões de cores
que eu nunca vi
e de cheiros e de sons e de sabores.

Mas uma coisa também é certa:
Todos os dias descubro
Sempre mais um bocadinho.
E isso é a coisa
Mais fantástica que há!


Texto de Isabel Martins

1 comentário:

Margarida MArques disse...

A minha pequenina leu na escola um pedacinho deste trabalho.

Adorou!

Dizia que foi a prenda de anos dela da escola, porque aprendeu precisamente no dia em que fazia 7 anos (1/10/2014).

Leu em voz alta uma vez e memorizou-o!

É lindo ouvi-la!

Obrigada

Margarida Marques

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